segunda-feira, 2 de março de 2015

Marilena Chauí/ Luta de classes

"(...)Enquanto houver capital tem luta de classes. São inseparáveis. O que varia é o modo como essa luta se constitui, como ela se apresenta, como ela se oculta. Então, não há como estar no capitalismo sem luta de classes. Portanto, uma das coisas que cabe fazer é saber o que são as classes no capitalismo contemporâneo e como se dá a luta, se os conceitos antigos que nós tínhamos servem, certamente não. Então, eu acho que se trata de recuperar uma coisa importantíssima da qual Marx e os marxistas nunca abriram mão de que se trata (...) que uma análise de esquerda é uma análise do presente. É uma análise material, uma compreensão material das condições do presente. E, portanto, você tem que (...) onde é que está a contradição? Qual é e onde está a grande contradição" Marilena Chauí, entrevista concedida ao Roda Viva, 1999.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Baudelaire/Mon coeur mis à nu

LXXXIV

Todos os imbecis da Burguesia que pronunciam sem cessar as palavras: imoral, imoralidade, moralidade na arte e outras sandices, fazem-me pensar em Louise Villedieu, puta de cinco francos, que certa vez, acompanhando-me ao Louvre, onde nunca estivera, pôs-se a enrubescer, a cobrir o rosto, puxando-me a cada instante pela manga, me perguntava, ante as estátuas e os quadros imortais, como se podiam exibir publicamente semelhantes indecências. 
As folhas da videira do Sr. Nieuwerkerke.

Charles Baudelaire - Meu coração desnudado. Tradução Aurélio Buarque de Holanda

quinta-feira, 17 de julho de 2014

IT'S ALIVE! O RENASCIMENTO

Após 4 anos de hibernação o blog ressurge. A partir de agora não serão postados apenas textos inéditos deste autor desconhecido. Também vão aparecer por aqui notas, trechos, citações de autores que realmente merecem atenção, autores que fazem a cabeça, de algum modo, deste autor relegado ao esquecimento. Assim, pretende-se garantir uma regularidade que o formato antigo impossibilitava. Espera-se que o CRONICAMENTE DESARTICULADO ressurja como um espaço de exposição de ideias ainda não totalmente acabadas - por isso ainda desarticuladas -, mas também que ideias consagradas ou ainda não visitadas sejam divulgadas neste mare nostrum virtual..."It's alive!"o monstro ressurge parcos leitores. Boa leitura!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

PROFISSÃO DOCENTE E EMANCIPAÇÃO

A profissão docente passa por um longo período de crise, produto das mais variadas forças que compõem a dinâmica econômica, política e social. Submetidos às pressões de tais forças, os professores não conseguem, no mundo da prática, efetivar o potencial emancipador da educação. De tal modo que, no interior da instituição escolar, pressionados a “cumprir programas”, seguir documentos – muitas vezes sem compreendê-los – e dar conta das reais necessidades do alunado, não articulam a formação das novas gerações com um projeto teórico-prático de emancipação dos indivíduos e efetivação da democracia brasileira.
A instituição escolar brasileira sofre de uma crise identitária reflexo da história e das desigualdades econômicas e sociais. Não podemos esquecer que o período da ditadura militar (1964-1985) deixou suas marcas profundamente enraizadas nas instituições. Diante disto, o teor autoritário da legislação escolar só foi alterado a partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº. 9394/96, ou seja, ainda vivemos uma longa fase de transição e, isto, obviamente reflete na instituição escolar, pois embora a legislação tente caminhar na direção da democratização as práticas cotidianas ainda reproduzem o autoritarismo ora diretos, ora mascarados com um discurso conciliador.
Isto posto, não é surpresa encontrarmos cursos de formação de professores que ainda carregam os traços autoritários e aqui o que interessa é dar uma formação tecnicista, sem articulação da relação teoria-prática. Neste sentido, o professor só poderá ser um instrutor, aquele que segue materiais produzidos por quem efetivamente sabe (os professores responsáveis pela elaboração de livros didáticos, apostilas etc.) e não um educador bem formado, criativo e consciente da sua importância crítica e fomentadora da emancipação intelectual.
Assim, é necessário superar a herança e práticas autoritárias da instituição escolar e formar professores que consigam dar conta da tensão teoria-prática. Professores que diante do estado atual de coisas não digam que o mundo contemporâneo é pragmático, e, portanto, distante da reflexão teórica. Ou por outras palavras, professores capacitados para a pesquisa e docência, bem como, capazes de escutar as demandas do alunado, mas acima de tudo capazes de nessa escuta, salientar que é com a participação deles, no processo de conhecer-educar-aprender, construímos uma sociedade democrática mais sólida, civilizada, capaz de evitar ataques mais frequentes da barbárie. A educação só pode efetivar seu potencial emancipador se as forças que a impedem forem compreendidas e modificadas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

SOBRE A EDUCAÇÃO II - O QUE FAZER?

De uma lado a velha leitura repleta de lugares-comuns, palavras de ordem vazias da estúpida extrema-esquerda(pensam que o Brasil é a Rússia de 1917) de outro o individualismo elevado a enésima potência reprodutora da alienação, do conformismo, do "fim da história", em que cada qual cuida de suas necessidades elementares( e por isso não podem participar de qualquer ação coletiva), produto da visão contemporânea do mundo do trabalho que massacra qualquer possibilidade de consciência crítica e obriga a aceitação passiva do "atual estado de coisas". Ou seja, faz muito tempo que o professorado é sistematicamente massacrado enquanto categoria, ou por outras palavras, os dois campos corroboram para a narcotização das consciências e para impedir a realização da potência emancipatória da educação - eu ainda acredito nisso apesar do pesares...-. O trabalho em sala de aula cada vez mais cansativo e burocratizado, pois o que interessa à "gerência" das escolas é que os alunos cumpram os 200 dias letivos, que o professor demonstre a "competência" para ser babá, carcereiro ou tutor de boas maneiras - seja lá que diabos isso signifique -, e cada vez menos educador no sentido mais amplo dessa palavra. Assim, encurralados que estamos, mesmo com todas as críticas que devam ser feitas à "luta" sindical atual, ainda é uma possiblidade de luta conjunta, já que categoria, profissão, ética, política, conscientização e crítica, são cada vez mais palavras vazias para deixar discursos floridos. No entanto, este formato atual, de lutas fratricidas da extrema- esquerda com o PT (penso que a luta deva ser supra partidária) ou a apatia, o sarcasmo,o deboche em relação aos que lutam, deva ser superado conjuntamente. Ainda será possível aos professores diante de todos os ataques cotidianos realizarem a reflexão sobre a importante atividade que desempenhamos? Ou continuaremos entre a impotência, a apatia, o cinismo e o deboche em relação uns aos outros? Enfraquecidos, desunidos e inimigos? Quais o locais dispomos para construir algo emancipatório?